quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Minha caixa de sapatos


Hoje acordei e ao sentar na beirada da cama avistei uma antiga caixa de sapatos, instintivamente fui ao seu encontro.

Há tempos ali não repousava mais um velho par de sapatos, há tempos eu não sabia exatamente o que havia ali.

Por que mexer naquela caixa agora, que durante muito tempo esteve ali, onipresente, se mostrando em todo alvorecer para mim, estática, como alguém que me observava ironicamente esperando o dia em que eu a entendesse?

Não sei. Só sei que hoje fui ao encontro dela.

Um vento forte se fez presente na agitação raivosa das cortinas me empurrando até ela. “Venha logo meu rapaz, não tenha medo.”

Caixa fala? Vocês nem imaginam como.

Hoje inconscientemente quis exorcizar fantasmas que nem sabia que existiam, hoje inconscientemente consegui enxergar aquela velha caixa de sapatos.

Estávamos ali, só eu e ela, separados por meros centímetros. Centímetros?

Cigarros? Ela não me respondeu. Biscoitos? Um silêncio mútuo se impôs perante nós naquele angustiante momento.

Resignado sentei ao seu lado. Centímetros?

Como um algoz ela dirigiu-se em minha direção, imponente, impassível, ciente de sua missão. E ali entre mim e ela, como um cuspe em meu rosto, jogaram-se as cartas, essas que hoje resolvi entender.

Meros centímetros. Centímetros?

Minhas camisetas rasgadas estampando minhas bandas de Rock n’ Roll subjugaram-se as camisas de estampas finas e gravatas, meu contrabaixo elétrico, como num toque de mágica, já não era mais ele, minhas mãos não tocavam mais em cordas, agendas e canetas apareciam por entre elas.

Amigos importantes, amigas confidentes, shows inesquecíveis, os afagos e as broncas de meus pais estavam ali, longe de mim. Tudo em minhas mãos, muito longe de mim.

Hoje entendi a minha caixa de sapatos.

Jamais é tão tarde quanto o nunca.

Tudo é cíclico, ela vai querer falar comigo outras vezes, deixou isso bem claro. Vai caber a mim se a reencontrarei com saudades ou com remorso.

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