sábado, 1 de agosto de 2009

23 anos em 7 segundos...


Acabei de assisti-lo, estou desidratado. Não pelo motivo babaca de querer se vender, ou se auto-promover como o corinthiano mais fanático do que o do lado, mas sim por, de repente, entender o contexto social que o Corinthians tem em minha vida, qual o tamanho da sua participação na minha formação e finalmente esclarecer sua onipresença em meu cotidiano.

Nasci corinthiano, aliás, antes de nascer eu já era. Meu pai não me daria outra opção, como não o fez nem prá mim muito menos para o meu irmão. Nossa irmã mais nova o velho deixou por nossa conta, tenho certeza que foi tudo calculado. Minha filha com 2 anos e 3 meses ao ouvir estouros de rojões já grita “Vai CoLíntians!”, minha sobrinha idem e sabe que não pode gostar do Palmeiras! Mais uma vez eu e meu irmão, agora com a ajuda da tia das duas, fomos implacáveis, não demos a mínima chance para as crianças, dando a devida sequência a semente plantada pelo avô delas, meu pai. A esposa de meu irmão está grávida de seu segundo filho, é menino, adivinhem como ele me deu a notícia? “Mano, tá vindo mais um corinthiano aí!” Ouvi-lo emocionado.

Tenho como batismo do meu corinthianismo as semifinais do campeonato paulista de 1986, contra o arqui-rival, o arquiinimigo, aquele que meu Pai ensinou a não gostar. Lembro-me com exatidão, no auge de meus 8 anos, há exatos 23 anos!!! Isso mesmo, meus 23 anos de Corinthians vieram à tona logo hoje, depois de “23 anos em 7 segundos”. No mínimo arrepiante.
Estava sentando ao pé da cama de meus pais brincando com alguns carrinhos enquanto meu pai sentado em cima dela ouvia no rádio a primeira partida daquela decisão. O gol foi alvinegro, não me esqueço, parece que estou vendo meu pai pulando pelo quarto e correndo em volta da cama aos berros.

Foi ali! Ali que joguei o rádio na parede uma semana depois ao ouvir o time do meu pai, o meu time, sucumbir ao rival, mas depois devidamente vingados nas finais daquele campeonato. Foi ali que meu pai viu que já poderia levar sem risco seus filhos para o Pacaembu para debutarem nas arquibancadas junto à Fiel. Foi ali que descobri uma mãe super protetora que fazia chá de erva cidreira para todos e se trancava no quarto fazendo tricô para não passar nervoso em dias de jogos decisivos. Foi ali que inconscientemente casei com uma corinthiana, assim como meu irmão também o fez. Foi ali que iniciamos uma nova geração alvinegra. Tudo por causa daqueles pulos, daquele finado rádio velho amarelo que tinha o apelido de “Zé Bétio”, espatifado por mim contra a parede. Foi ali que conheci as histórias mais orgulhosas de meu pai.

Chorei ao ver no filme a quebra do tabu contra o Santos em 1968. Meu pai estava lá e conta com orgulho: “O Rivelino só não fez chover!”. Chorei ao ver as imagens da invasão de 76. Meus pais voltavam da lua de mel em Salvador e sobrevoaram o Maracanã para verem lá dos céus, sob o aviso do comandante, os 70 mil companheiros, entre eles um tio meu. Chorei ao acompanhar os detalhes do jogo contra a Ponte, meu pai já havia me contado todos, aliás, minha mãe complementava sempre com a história da bandeira gigante confeccionada por minha avó para poderem comemorar nas ruas da cidade natal de meu pai assim que o jejum acabasse.
Chorei por saber que nesses meus 23 anos de corinthiano torcedor ele sempre vai me remeter as pessoas que eu mais amo.

Obrigado Corinthians!